quarta-feira, 29 de agosto de 2012

POESIA PARA OS PEQUENOS...



“Poesia é a descoberta das coisas que eu nunca vi”. 
Oswald de Andrade 


Você já se perguntou: "Qual a diferença entre poema e poesia?". 
Basicamente a poesia emociona, sensibiliza e toca por meio da linguagem. Já o poema é a forma do texto composto por verso e estrofe. Mas considere, nem todo poema é poesia! 

Que tal incluir a leitura de um texto poético na roda de história? 

As crianças poderão se aproximar de um novo texto literário, ampliar seu repertório e complementar sua formação leitora. E nas salas de alfabetização, os poemas também contribuem na observação de aspectos da linguagem escrita. 

De forma lúdica este gênero encanta e diverte: brinca com as palavras, oferece rimas, temas interessantes e adequados às idades. É importante que o professor seja criterioso na escolha dos livros; uma dica é começar pelos autores Lalau e Laurabeatriz: os textos fazem sucesso com os pequeninos! 

A partir do contato com a poesia as crianças brincam com as palavras, as sonoridades, os ritmos e aos poucos podem perceber as diferenças entre cantar, recitar e falar. 

Até os alunos que falam pouco podem se arriscar a conversar sobre o assunto da poesia que se interessaram, muitas vezes pedem para que leiamos novamente as preferidas. 

Pode-se aos poucos apresentar novos poemas e poesias, começando pelas mais fáceis de memorizar. Também é importante manter uma biblioteca da sala de aula com os livros apresentados, para que sejam manuseados. E não se esqueça de apresentar o título, autor e editora! Outras fontes revelam novas formas poéticas: livro com cd de áudio ("Ou isto ou aquilo" de Cecília Meireles) e músicas em que a letra é de um poema, por exemplo "As Borboletas" de Vinicius de Moraes interpretada por Adriana Partimpim. 

Este trabalho tem como objetivo desenvolver a oralidade, ampliar o universo cultural - já trabalhei até com Haicai - e o interesse pela leitura. Também garante um contato inicial com o gênero, que ajudará a criança futuramente na vida escolar. 

Pode-se apenas incluir essas leituras na roda de história ou elaborar projetos: recital, livros confeccionados pelos alunos etc. 

Na minha primeira postagem “Literatura Oral na roda de história do 1º ano”; comento sobre a importância da roda de história na formação do leitor contribuindo para as escolhas do professor; caso não tenha acessado, é interessante que se leia. 



terça-feira, 21 de agosto de 2012

OFICINA DE PERCURSO CRIADOR: vivenciar, alimentar e cultivar.


“Sabemos que uma criança absorvida num desenho ou em outra atividade criativa qualquer é uma criança feliz. Sabemos, pela simples experiência diária, que auto-expressão é auto-desenvolvimento. Por essa razão é nosso dever reivindicar uma grande parcela do tempo da criança para atividades artísticas (...)”( Read, 1986)










Como funciona essa oficina?1


A oficina de percurso acontece a cada 15 dias. É um momento reservado para a criação autônoma e pode durar 40 minutos a uma hora.

O espaço utilizado pode ser a sala de aula ou o ateliê – o que não impede de ser planejada em outro espaço, organizada de modo que a proposta seja realizada com espontaneidade. As crianças precisam saber onde estão todos os materiais (que podem ficar dispostos em cadeiras ao redor das mesas encostadas nas paredes, em outras mesas ou mesmo no chão) podem trabalhar em pé ao redor das mesas ou no chão para facilitar a circulação: a troca de materiais, a observação das produções dos colegas e a troca de experiências. Enquanto produzem algumas crianças silenciam, outras conversam e até cantam se houver música.

Um dos focos do trabalho é a autonomia: a escolha do que irá fazer e dos materiais. Assim, cada criança desenvolve seu percurso criador pessoal.

Conforme o tempo da oficina, é possível fazer mais de uma produção, é preciso considerar um determinado espaço para secar os trabalhos. Um segundo foco dessa proposta está em explorar e aprofundar as possibilidades dos diversos materiais, para isso o combinado é que mesclem no mínimo duas das linguagens oferecidas.

Para que construam um percurso próprio, as crianças trabalham somente com materiais e procedimentos que já manejam com autonomia: giz, lápis de cor, caneta hidrocor e de retroprojetor, guache, anilina, diferentes suportes (papéis), pincéis, cola, fita crepe, barbante, pequenos objetos tridimensionais para colagem e outros. Além das linguagens da arte, também considero os materiais não estruturados. 

A oficina é um momento propício a criação: descoberta de possibilidades, de associações, combinações, reorganizações e reinvenções. Portanto, devem dominar bem as linguagens e os materiais para que possam transgredir e reapresentá-los com sua marca individual.

As aprendizagens são exclusivas dessa forma de produzir, de pesquisar.

Durante todas as propostas de artes enfatizo que é preciso respeitar o jeito de cada um se expressar, assim como é preciso acatar os procedimentos diários como cuidar dos materiais que usam e ajudar a organizar o espaço, lavar os pincéis, não sujar o uniforme (mesmo com a camiseta de artes), colocar sua produção para secar e cuidar das demais.

Ao planejar considerar...

- A organização do espaço 
- Frequência das oficinas (quinzenal ou semanal)
- Tempo de duração 
- Organização do espaço 
- Apreciação dos trabalhos (fazer uma roda)
- Escolher modalidades que as crianças dominam
- Escolha dos materiais

Sugestões em relação aos materiais:

Meios: carvão, lápis grafite, lápis de cor, lápis aquarelável, giz de cera, giz pastel seco e oleoso, giz para tecido, caneta para tecido, hidrocor grossa e fina, anilina, guache, tinta acrílica, guache com farinha, anilina com cola, giz de lousa seco e molhado, cola e areia, areia colorida, serragem colorida, caneta retroprojetor, caneta futura, tintas caseiras, corantes naturais, aquarela, terra, nanquim, sagu, carga de hidrocor, caneta esferográfica colorida, lã, cola relevo etc.
Suportes: sulfite, cartolina, color set, papel cartão, papel de presente, papel espelho, camurça, papel de seda, craft, jornal, revistas, partituras e folhas de livros velhas, talagarça, plástico bolha, acetato, plástico com 4 furos para pasta, crepon, papelão, caixas, tecido estampado, tecido cru, cartolina espelhada, papel vegetal, celofane, lumi paper, bloco criativo, canson, lixa, E.V.A, etiquetas, bandeja de isopor, saco de pão, feltro, forminha de papel para doces, papel reciclado, papel ondulado etc. Também é importante oferecer diversas formas e tamanhos.
Ferramentas: pincel chato, trincha, pincel comum redondo, brocha, vassourinhas, rodo, escovas de todos os tipos, rolinho pequeno, esponjas, buchas, pincel para nanquim, pena, cotonete, retroprojetor, tesoura, palitos, esteca, palitos etc.
Elementos de ligação: cola em bastão, cola líquida, fita crepe grossa e fina, durex, cola quente, fios, barbante, fita de cetim, fitas de presente, canudo etc.
Podem-se incluir elementos da natureza: pedras, folhas, corantes naturais, sementes, galhos etc.


Outras considerações importantes...


O contato regular com a diversidade de materiais favorece o conhecimento mais profundo de cada um deles e permite a criança concentrar-se em sua ação e não apenas com o que fazer.

No processo de aprendizagem em Artes Visuais, a criança traça um percurso de criação e construção individual, que envolve escolhas, experiências pessoais, aprendizagens, relação com a natureza, motivação interna e/ou externa.

O percurso individual pode ser, significativamente, enriquecido pela ação educativa intencional, porém, a criação artística é um ato exclusivo da criança.2

Cada uma cria seu caminho para construir conhecimentos em arte. As mediações do educador, incentivam as crianças e mantêm a criatividade: 


  • se errar, o desafio é transformar o erro em outra coisa, já que procuro não oferecer a borracha.
  • ao me mostrarem suas produções, comento sobre as cores, as linhas, o espaço, as marcas, os detalhes e peço para que me contem o que desenharam, algumas vezes me respondem “nada!” e digo “Ah, então você estava testando os movimentos, as cores e a caneta? e respondem "Não quis desenhar, só experimentar!” e se mostram satisfeitos por eu ter apreciado o resultado do trabalho, mesmo que não contenha uma representação da realidade. Reprimir a criança, dizendo-lhe que ela não desenhou nada ou que são rabiscos, pode bloquear ou romper o desenvolvimento de sua criatividade. Dizer apenas que está lindo não diz nada, repito que o conceito de bonito e feio é diferente para cada ser humano. 
  • e nada de perfeccionismo, as crianças bagunçam e sujam o espaço, é assim o processo, a não ser que queira que elas te agradem o tempo todo e produzam sem sentido.


O professor, não precisa se omitir durante a oficina de percurso com receio de bloquear a produção. Deve dialogar com as crianças, perguntar suas intenções, como pensou nesse ou naquele trabalho, colocar novos desafios, mostrar aspectos recorrentes em diferentes trabalhos tornando a marca pessoal observável e cada vez mais consciente.

É importante que o professor se planeje para acompanhar todos da turma mais de perto, observando como cada um trabalha, qual é seu estilo, a modalidade que mais procura trabalhar, em que precisa de maior apoio... Por isso é importante saber a hora de intervir para não queimar ou excluir etapas.3

A proposta não determina o percurso criador, ao contrário, alimenta-o e colocam novas questões e desafios para que ele se transforme. Uma boa proposta é aquela que revela mais a individualidade e as características de cada criança, suas diferenças e peculiaridades.

Na criação, as crianças demonstram muita ludicidade: brincam, jogam, inventam, narram, conversam, trocam etc.

Na oficina a proposta é livre, o objetivo é que as crianças tenham um momento de criação a partir de seu próprio repertório e da utilização dos elementos da linguagem que trabalhamos em sala.

Para oficinas com crianças de 2 e 3 anos coloque as modalidades progressivamente, mas no mínimo comece com 2, até que eles manipulem os materiais com autonomia. O importante é que eles estejam participando e se familiarizando com esta nova proposta de arte.

Cuidado com o tipo de música escolhida, pois pode agitar muito as crianças. O gostoso é que se mantenham no embalo da canção e o grupo trabalhe.

Pensar e conversar sobre como cada produtor de arte tem suas ideias, qual o ponto de partida para se fazer um trabalho, se é pelo tema ou o assunto, partindo do que quer fazer ou é escolhendo e mexendo no material que surgem as ideias é revelador do fato de que não existe um único caminho nos processos de criação. Assim, as crianças podem identificar e comparar seu jeito pessoal de produzir com o de outros e também se inspirar ou experimentar um ou outro ponto de partida, ajudando aquelas crianças que na oficina de percurso têm dificuldade de começar um trabalho alegando: ‘Não tenho ideia!’.4

Apreciação


Neste momento o professor elege alguns trabalhos de acordo com o objetivo pré-estabelecido e pensa boas perguntas para o grupo.

Sugestões 5:


• conversar sobre as possibilidades de combinação de modalidades e mistura de materiais, ou seja, o caráter experimental da atividade;
• debater sobre o tempo de realização de cada trabalho, enquanto em uma oficina alguns alunos realizam mais de um trabalho, outros podem levar algumas aulas para finalização, o que precisa ser reconhecido entre os alunos como marca pessoal;
• conversar coletiva sobre o processo de cada um, como tiveram a ideia do trabalho, mudanças no percurso;
• selecionar um trabalho de cada modalidade, de alguns alunos, para debater sobre as suas características, os materiais utilizados, outras possibilidades;
• selecionar alguns trabalhos na mesma modalidade, de diferentes alunos, para observar semelhanças e diferenças, e trocar possibilidades dentro da mesma modalidade;
• selecionar vários trabalhos do mesmo aluno para observar marcas pessoais.


A apreciação ajuda o aluno a falar sobre o que fez, sobre como pensou em usar os materiais, explicar suas escolhas etc.

Avaliação

Pode ser realizada mensalmente. O professor observa a cada aula e conhece melhor sobre o percurso de cada um, assim pode fazer intervenções significativas para cada aluno, por exemplo, sugerir novos materiais se percebe que usa sempre os mesmos etc.


Bibliografia


Disponível no site revistaescola.abril.com/arte/fundamentos/oficina-de-percurso-426096.shtml acesso em 19/8/2012.

VILA, Centro de Estudos da Escola da. Para saber mais: Oficina de Percurso, 2005. 
MEC, SEF. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume 3, Brasília: 1999.

Para saber mais sobre criatividade...


• Arte e conhecimento: ver, imaginar, criar – Jacob Bronowski
• Arte e ciência da criatividade – George Knerller

• Desenvolvimento da capacidade criadora – Viktor Lowenfeld
• Imaginação e arte na infância – Vygotsky
• Psicologia da criatividade – Maria helena Novaes
• Criatividade e processos de criação – Fayga Ostrower
• A educação criadora nas artes – Robert Saunders
• A redenção do robô: meu encontro com a educação através da arte – Herbert Read

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*Todos os direitos autorais das imagens e texto reservados para Marcela Chanan. É proibida sua cópia sem autorização prévia. O compartilhamento da publicação na íntegra diretamente do blog (link e via redes sociais) é livre.

[1] A oficina de percurso que apresento neste artigo se refere ao modo como eu trabalho. Cada professora organiza como desejar.

[2] Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil.

[3] e [4] VILA, Centro de Estudos da Escola da. Para saber mais: Oficina de Percurso, 2005.

[5] Disponível no site revistaescola.abril.com/arte/fundamentos/oficina-de-percurso-426096.shtml acesso em 19/8/2012.



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ACOLHIMENTO, CANTOS, CANTINHOS: um novo olhar para organização da sala de aula



          Na medida em que ampliamos os conhecimentos sobre a rotina da classe e sobre a faixa etária, o olhar vai se apurando em relação as demandas e interesses das crianças, o que permite novas construções acerca da organização do espaço e dos cantos como importante momento do dia.

Como foi um assunto que me instigou a pesquisar mais sobre, procurei referências que pudessem me ajudar e encontrei:

·Sabores, cores, sons, aromas – A organização dos espaços na Educação Infantil da autora Maria da Graça Souza Horn
·Educação Infantil: fundamentos e métodos - capítulo XIV “Os ambientes de aprendizagem como recursos pedagógicos” - da autora Zilma Ramos de Oliveira
· Aprender e Ensinar na Educação Infantil das autoras Isabel Solé, Teresa Huguet e Eulália Bassedas.

Planejar, observar e intervir...

Diariamente, as crianças colaboram com a organização dos cantos no momento de guardar e se tornam responsáveis por essa tarefa, existindo um comprometimento.

Os cantos compõem um ritual importante de chegada à escola: trata-se de uma chegada gradativa ao ambiente escolar. As crianças podem escolher as propostas disponíveis, se aproximar dos amigos e dos não tão amigos, conversar e se divertir. Em seguida, a roda centra atenção de todos e segue uma atividade que exige ainda maior concentração e empenho. 

As crianças aguardam os cantos com ansiedade. Enquanto brincam, conversam, interagem com os amigos, contam novidades, desenham, jogam...

A partir da observação do professor, é possível perceber as preferências de cada um, a forma de se relacionar e de resolver conflitos. É possível verificar a frequência e a qualidade das intervenções, com quais crianças foram necessárias, como se dá a troca de brinquedos/jogos tanto como objeto quanto de significação,  e a circulação no espaço.

É muito importante considerar que o ato de brincar/jogar é algo muito sério para as crianças, ela dá o seu melhor participando, aprendendo, explorando e conhecendo o mundo.

HORN cita que segundo Vygotsky (1984) o ato de brincar proporciona um suporte básico para as mudanças das necessidades e da consciência. Tudo surge ao brincar, o que se constitui assim no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar, a atividade de brincar é considerada condutora que determina o desenvolvimento da criança. A autora ainda complementa que para Vygotsky, o papel do adulto é o parceiro mais experiente que promove, organiza e prevê situações de interação que promovem o desenvolvimento, sendo o espaço que se constitui um cenário onde tudo acontece, mais nunca é neutro. Ainda sim o papel do professor é intervir na zona de desenvolvimento proximal das crianças, provocando avanços que não aconteceriam espontaneamente.

Os cantos precisam saciar essa vontade de brincar, de falar, a ansiedade de começar o dia na escola, assim facilita os momentos como roda e atividades, porque as crianças já não estão muito eufóricas.

A organização dos cantos requer uma atenção especial. A elaboração desse momento deve ser bem pensada, porque não adianta somente organizar é preciso que o espaço permita a movimentação, a autonomia das crianças e a descentralização do adulto, o professor pode circular pela sala atendendo pequenos grupos. Além disso as propostas também são desafiadoras para quem as planeja, considerando esses critérios citados acima. 

      É preciso que tenham propostas interessantes e instigantes e que ao mesmo tempo, permitam atuações autônomas. É preciso variar, mas também considerar preferências. É preciso assegurar uma diversidade. Planejar as atividades dos cantos é uma tarefa bem mais complexa do que parece inicialmente!

HORN cita que na teoria de Piaget, ser autônomo é governar a si mesmo, tanto na esfera moral como intelectual, ser autônomo no âmbito moral significa decidir por si próprio entre o certo e o errado. Nesse entendimento, quando ameaçamos crianças com punições ou a manipulamos com subornos, reforçamos sua heteronomia, ou seja, se submeter. No âmbito intelectual, a autonomia é construída no momento em que encorajamos as crianças a pensarem de seu próprio modo, em vez de obrigá-las a darem respostas certas (KAMII, 1991).

O professor deve considerar que a forma como é organizado os cantos e a sala de aula, possibilite ou não interações, o meio social desempenha um papel fundamental na construção do conhecimento (Vygotsky), tendo a formatação da sala uma extrema importância pelo peso que esse tipo de proposta precisa ter no planejamento do professor e na rotina da educação Infantil. Imagine que há muitas escolas que apenas consideram esse momento favorável para a recepção das crianças e atendimento aos pais. Tendem a colocar qualquer brinquedo ou jogo apenas para que as crianças se entretenham enquanto as professoras cuidam da chegada.

É muito importante sabermos olhar o ambiente, pois pode acontecer de perdemos coisas ou interpretarmos de maneira errada. Dependendo de como se organiza esse espaço podem aparecer comportamentos ditos inadequados e que não esperamos das crianças. Quando alteramos a configuração as crianças dizem o que percebem podendo até mudar encaminhamentos e falas, influenciando o modo de agir.

Esse espaço deve possibilitar que as crianças interajam com um número menor de amigos, melhorando a coordenação de suas ações e a criação de novos enredos nas brincadeiras, o que aumenta a troca e o aperfeiçoamento da linguagem. Esse espaço permite o estabelecimento de outros vínculos e até de vínculos por afinidades - preferências por um tipo de proposta podem aproximar as crianças.

HORN diz também que deve haver também conexão entre desenvolvimento e a aprendizagem, entre deferentes linguagens simbólicas, entre o pensamento e a ação, entre a autonomia individual e interpessoal. O professor é responsável por organizar este ambiente e intervir quando necessário para que a aprendizagem e as relações sejam produtivas. Essa organização da sala de aula é essencial para o desenvolvimento das crianças, o ambiente torna-se um instrumento, um parceiro do professor na prática educativa, não apenas sendo desafiador, é necessário que eles interajam nesse espaço vivenciando-o intencionalmente e se descentralizando da figura do adulto, onde o controle passa a ser do ambiente.

Sendo preciso que ao planejar esse espaço se leve em conta a faixa etária para adequar o espaço e contribuir para o seu desenvolvimento. O espaço deve ser um aliado, planejado e estabelecido para facilitar encontros, trocas e interações, garantindo o bem-estar de cada criança e do grupo como um todo. A organização espacial merece tanta atenção quanto a seleção de atividades. Não basta colocar as propostas sobre a mesa, sem considerar a disposição que terão ou a possibilidade de uso de outros recursos materiais. O próprio chão pode ser um espaço bastante rico.

O professor pode propor para as crianças que planejem a organização dos cantos, compartilhando as regras de funcionamento e criando vínculos de confiança, as crianças poderão expressar suas ideias e opiniões. Os cantos também podem ser alterados de acordo com o projeto desenvolvido ou interesse das crianças. E dependendo da faixa etária, a organização pelas crianças é possível, sobretudo pela experiência vivida nas séries anteriores. 

        O canto temático também é outra forma interessante de se planejar: pode ser de artes, de jogos matemáticos, de projeto, de jogo simbólico etc. O professor pode usar desse planejamento para garantir algumas aprendizagens fora dos momentos específicos para serem trabalhados. Pode também planejá-lo junto com outra sala, assim as crianças podem transitar pelos dois espaços, ampliando suas possibilidades de interação tanto com crianças que não brinca tanto da mesma série, quanto para brincar com crianças de faixa etária diferente. O importante é que as salas sejam próximas e pode ser feito algum “caminho” no chão para demonstrar o acesso entre as salas.

HORN concorda que segundo MALAGUZZI (1999) considera que o modo como nos relacionamos com as crianças é fundamental, pois isso influencia nossas motivações e nossas aprendizagens, sendo que o ambiente deve ser preparado de forma a interligar o cognitivo ao relacionamento e a afetividade.

Como as crianças estão num mesmo ambiente, deve-se sempre planejar o que estimule a interação para que ela assuma diferentes papéis, aprendendo a se conhecer melhor, tornando-se um ambiente acolhedor convidativo, podendo utilizar os cantos de uma forma integrada. O professor tem que saber que tipo de desafio cada canto propõe a criança. E também por que razão considera importante aquele tipo de proposta naquele momento do ano e para aquele grupo de alunos.

Toda essa organização facilita também que o professor observe as ações das crianças sem ser o centro da prática pedagógica, mas isso não quer dizer que ele não continue atuando, depende da relação que se da entre controle e emancipação.

Segundo HORN a metodologia Montessoriana, dá um destaque especial para o equipamento, os materiais e o mobiliário, tudo é adequado ao tamanho das crianças, existindo harmonia, colorido, valoriza a arte e a estética, fazendo com que o ambiente seja convidativo e as crianças não necessitem do adulto para tudo, podendo ser mais autônomas. Porém, o foco deles está na relação com os materiais, enquanto recursos para a aprendizagem. Talvez a interação entre crianças tenha menos espaço nessa linha.

Vejo a importância desses planejamentos dos cantos, é necessário que exista algo educativo, de socialização e de aprendizagem, suprindo as necessidades das crianças.

É muito mais enriquecedor oferecer qualidade de materiais do que quantidade ou semelhanças, cada objeto posto no espaço deve conter por si próprio um potencial de aprendizagem único e diferente dos outros. Os materiais que permitem múltiplos usos oportunizam uma interação mais prolongada.

É relevante considerar que esse planejamento deve ser flexível a alguns pedidos dos pequenos, por exemplo, se um aluno pede para desenhar sentada ou deitada no chão e a opção se mostra possível porque não?! Neste caso as crianças são vistas não apenas como quem usufrui do espaço, mas como quem pode também contribuir para sua organização em uma atividade.

A autora ainda diz que MALLAGUZZI (1999) afirma que os relacionamentos e a aprendizagem coincidem em processo ativo de educação por meio de expectativas e habilidades das crianças, da competência profissional dos adultos e do próprio processo educacional.

Uma concepção pedagógica revela-se ao ver como a professora planeja suas aulas, no seu cotidiano, na organização da sala de aula, na forma como lida com as crianças e nas escolhas teóricas que faz.

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*Todos os direitos autorais do texto reservados para Marcela Chanan. É proibida sua cópia sem autorização prévia. O compartilhamento da publicação na íntegra diretamente do blog (link e via redes sociais) é livre.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A literatura oral brasileira na RODA DE HISTÓRIA do 1º ano*

*Trabalho apresentado no Simpósio da Escola da Vila em 2007.

“A cultura popular não é uma coisa morta que precisa ser relembrada. Ela é viva, imensa e ocorre o tempo todo, em todos os lugares, todos os dias do ano”.
Ricardo Azevedo
Introdução

O meu tema de estudo é A literatura oral brasileira com crianças de 6 anos. Trata-se da apresentação de uma seqüência de leitura de lendas e contos tradicionais que planejei e encaminhei. O texto abordará algumas questões sobre as ilustrações, o diálogo, a censura e a leitura; destacará o envolvimento deste trabalho e a contribuição da literatura oral para as crianças desta faixa etária e também a ação do professor na roda de história. 

O que é literatura oral?

       Existem duas fontes vivas que diz respeito ao que é literatura oral: uma que está estritamente relacionada ao oral (histórias, danças, canto, rodas, jogos, cantigas, anedotas, lendas, adivinhações, etc) e outra que são as reimpressões de antigos livrinhos vindos da Espanha e Portugal, que nos trazem assuntos da época, política, fábulas, criações de gênero sentimental, etc.
A literatura oral brasileira reúne todas as manifestações da recreação popular, mantidas pela tradição, e é composta por elementos trazidos por três povos: indígenas, portugueses e africanos. Dentro da literatura oral não está somente presente a oralidade, mas também a escrita, que une a tradição oral a cultura escrita.
Diante deste estudo tive uma dúvida em relação a tradição oral e a literatura oral. Qual é a diferença?
A literatura oral já foi definida acima. A tradição oral é transmitida oralmente, conservada pelo costume, divulga e transmite o conhecimento popular, onde a memória falhava entrava a imaginação para suprir-lhe a falta; é antiga, não tem textos nem livros, sua característica é a fala, o vocal, o oral, produções orais; essa oralidade existe antes do homem ter acesso à cultura escrita. É um costume da existência humana, a tradição oral é mundial.
A expressão oral pode existir – e na maioria das vezes existiu – sem qualquer escrita; mas nunca a escrita sem a oralidade.[1]
Sendo assim, a tradição oral sempre existiu, por conta da cultura escrita foi definida a literatura oral que tem o folclore como o patrimônio e dentro dele temos o mito que deu origem a lenda; e o conto popular, dentre outros (refiro-me somente a esses três que se tornaram objetos de meu estudo).
O que é o folclore então?
Todos os países do mundo, raças, grupos humanos, famílias, classes profissionais possuem um patrimônio de tradições que se transmite oralmente e é definido e conservado pelo costume; esse patrimônio é milenar e contemporâneo. Cresce com os conhecimentos diários desde que se integrem nos hábitos grupais, domésticos ou nacionais. Para conhecermos melhor um povo precisamos conhecer o seu folclore.
Cascudo[2] explica que o folclore é popular, mas nem todo popular é folclore, é preciso que:
                  “O motivo, o fato, a ação, seja antigo na memória do povo, anônimo em sua autoria, divulgado em seu conhecimento e persistente nos repertórios orais ou no habito normal. Que sejam omissos nos nomes próprios, localizações geográficas e datas fixadoras do episódio no tempo”.
O mesmo autor define como características principais de tais contos a antiguidade, o anonimato, a divulgação e a persistência. Valendo também de apoio para a seleção de versões que lemos e autores que elegemos.
Então me pergunto quais as características principais para diferenciarmos o conto popular, o mito e a lenda?
Os contos populares transmitem valores éticos, conceitos morais, modelos de comportamento e concepções de mundo. São contos transmitidos pela tradição oral das várias regiões do Brasil, relatos dos povos que compõe a etnia brasileira, de certa forma mais uma fuga do homem para satisfazer seus sonhos e fantasias.
Cascudo fez uma divisão do conto popular por assuntos: Contos de encantamento (sobrenatural), de exemplo (moral), de animais (fábulas), religiosos (divino), etiológicos (explica formas curiosa de animais e plantas), de adivinhação (vitória por descoberta de um enigma), acumulativos (o assunto é uma serie encadeada de motivos), natureza denunciante, demônio logrado, ciclo da morte (ela sempre vence) e contos sem fim.
Já os mitos trazem animais fabulosos e seres fantásticos. Suas características individuais, mas possuem costumes que vão mudando, adaptados as condições do ambiente em que agem, em diferentes regiões podem ter características diversas.
As lendas são relatos contados como fatos verídicos acontecidos em lugares concretos, explica o surgimento de algo no universo, ensina e fixa hábitos e crenças de determinados lugares, normalmente está ligada ao religioso.  
Cascudo[3] define que o mito é uma explicação imediata, em sua essência é ação nitidamente personalizadora e a lenda é um ponto imóvel de referência e tem como uma outra característica a coletividade.
Toda essa fantasia do folclore serviu de fonte de inspiração de muitos artistas plásticos como: Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cícero dias, Mário de Andrade, dentre outros. Estarão sempre presentes também no trabalho de músicos, poetas, escritores e contadores de histórias.

A roda de história: o seu papel na formação do leitor

Na roda de história, o professor compartilha esse momento prazeroso mostrando as crianças o quanto é gostoso ler: estabelecendo um vínculo entre o livro e o leitor, a criança participa, presta atenção na narrativa e vai percebendo que existem novas formas de linguagem, amplia seu vocabulário e estabelece relações entre o que já sabe e o que encontra de novo nestas leituras. As rodas permitem às crianças familiarizar-se e querer aprender a ler, passando o sentimento de desejo, anseio, aventura, tristeza, alegria, medo, etc.
Compartilhar leituras com os pequenos é importante porque torna possível beneficiar-se da competência dos outros para construir sentido e obter o prazer de entender mais e melhor os livros, também porque permite experimentar a literatura em sua dimensão socializadora, fazendo com que a pessoa se sinta parte de uma comunidade de leitores com referências e cumplicidades mútuas.[4]
Uma experiência com o adulto fazendo uma leitura em voz alta, é o momento certo, onde elas observam com atenção a gesticulação, a postura, os recursos da voz, se estão lendo rápido ou devagar, se gostamos do que estamos lendo, se lemos com vontade, se existe prazer na leitura, se paramos para ouvi-las, se mostramos imagens; aprendem sobre diferentes modos de lidar com o texto literário e até sem ele, num caso de contação, por exemplo.
COLOMER e CAMPS[5] dizem que
                  “A condição básica e fundamental para um bom ensino de leitura na escola é a de restituir-lhe seu sentido de prática social e cultural, de tal maneira que os alunos entendam sua aprendizagem como um meio para ampliar suas possibilidades de comunicação, de prazer e de aprendizagem e se envolvam no interesse por compreender a mensagem escrita”.
As crianças vão formando um conhecimento sobre a linguagem escrita também por meio dessas leituras, estabelecendo uma relação do que já se ouviu com que está ouvindo. A roda de história oferece a oportunidade de se pronunciar, de argumentar, de exercitar o ouvir e falar sempre que a achar necessário.
A oralidade também está constantemente presente nesses momentos, tanto pelo professor que faz a leitura quanto pelos alunos que, quando julgam necessário, se expressam. É importante que eles tenham esse direito de falar e que saibam usá-lo diante da situação de leitura;  eles entram nesse momento num intercâmbio de conhecimentos, tomam uma posição diante do que falar e em que momento, contribuindo para ampliar e enriquecer seus conhecimentos, entusiasmo e emoção, tanto para quem esta acostumando com esse mundo da leitura quanto para que tem poucas oportunidades desta natureza.
Os pequenos podem se encantar com o ato de ler ou não. Isso depende muito das experiências que possuem em relação à leitura, inclusive no âmbito familiar, onde elas observam os gostos, o comportamento e o interesse dos leitores, mas é papel da escola fomentar esse interesse nos pequenos, a escola deve investir para que as crianças não sejam despojadas de nossa herança literária.
Algumas das vantagens de se ler em voz alta: desenvolve a capacidade de dar seqüência lógica aos fatos; esclarece o pensamento; educa a atenção; desenvolve o gosto literário; fixa e amplia o vocabulário; estimula o interesse pela leitura; desenvolve a linguagem oral e escrita; a capacidade de recontar, de ouvir, de se concentrar e de expandir o imaginário.
Segundo Colomer e Camps: desenvolve esquemas narrativos progressivamente complexos ou diversificados; enriquece a bagagem cultural do aluno e acrescenta ainda o conhecimento receptivo das formas lingüísticas próprias do escrito, como a utilização de determinadas estruturas sintáticas ou de um léxico mais variado e amplo.
Este hábito de leitura é favorecido quando existe na rotina um momento especifico para ele; neste sentido, não importa se é na sala de aula ou na biblioteca, essencial é ter este tempo reservado com este propósito.
A organização das crianças tem sido sempre em roda para facilitar a troca e a discussão, assim quando um fala todos olham para ela, assim elas já sabem também como se portar na roda. E as mesmas têm sido na sala de aula ou na sala de leitura.
Colomer e Camps consideram, ainda, que
“A leitura literária deve receber um tratamento especifico na escola, porque, diferentemente das demais leituras, destina-se a apreciar o ato de expressão do autor, a desenvolver o imaginário pessoal a partir dessa apreciação e a permitir o reencontro da pessoa consigo mesma em sua interpretação”.
Deve-se criar uma consciência nessas crianças sobre a leitura, para que consigam ser sujeitos críticos, autônomos e competentes, conhecendo o que é “bom” não se deixando seduzir apenas por imagens e personagens “comerciais”, é importante existir um momento onde possamos discutir, apreciar, conversar, falar sobre as narrativas e recontá-las, para que fiquem mais presentes em suas vidas e não passem como somente mais uma historia esquecida. Podem existir algumas atividades que favoreçam esse momento de memória, recordação, comentários, descrições, diálogo etc.
No currículo argentino[6] as crianças precisam colocar em prática alguns procedimentos e atitudes no primeiro ciclo que fazem parte dos momentos de roda de história como: Escutar e compreender textos narrados e lidos por um docente; ler textos com muitas ilustrações e textos que são auto suficientes; perguntar sempre o vocabulário quando não entendido e o professor consultar o dicionário e fazer correspondências lexicais; prestar atenção na história contada e ser sensível em relação a como esta sendo contada; o professor deve apresentar o livro, situando as crianças como gênero, editora, autor e ilustrador; oferecer narrativas mais elaboradas que desenvolvam a capacidade de interpretações mais complexas, com mais de um protagonista, por exemplo; o contato direto e diário com diferentes livros e textos literários; que lhes sejam trabalhados com leitura de imagens; livros de contos extensos, antigos, novos, de outros lugares; jogos com palavras, canções, rimas; leitura freqüente de textos selecionados e leituras que as crianças conhecem e querem repetir.
Olhando um pouco mais para as crianças, Daniel Pennac em um de seus livros[7] esclarece várias dúvidas, atitudes e valores que nos ajudam a repensar o que é positivo e o que é negativo para formar um leitor. Ensina-nos os direitos do leitor, talvez nunca pensados por nós dessa forma, mostrando que não é “pecado”, não somos piores que outros leitores caso nos venha acontecer de querermos abandonar a leitura, pular páginas, reler, ler qualquer coisa, ler onde quiser, devorar leituras, ler em voz alta, calar e ler uma frase aqui outra ali; cada leitor é um ser que tem sua individualidade, não precisamos seguir fórmulas da sociedade.
Seguem[8] alguns dos critérios levantados por Teresa Colomer para selecionar as leituras em voz alta, que se encaixaram perfeitamente no que pensei para minha seqüência:
·         Escolher contos ou livros que suponham uma bagagem cultural importante;
·         Apresentar as leituras;
·         Relacionar a obra com outras que conheçam as crianças pelo tema, autor, ilustrador, época, etc;
·         Reler as leituras de maior êxito;
·         Escolher obras, que o próprio professor aprecie e
·         Escolher contos ou livros que estejam mais além das possibilidades de leitura autônoma das crianças.
Um critério para se escolher esse gênero é que a leitura pode ser complexa, os textos são mais extensos e normalmente são escritos com caixa baixa dificultando a leitura das crianças. O professor deve ser o narrador ampliando a referência literária das crianças e por vezes dando vida às histórias com gestos e sons. As crianças ainda vão precisar do professor por algum tempo para entrar nesse mundo da literatura e, a depender da complexidade do gênero, da obra ou até do autor, demandarão o apoio do professor em outros momentos da escolaridade.
Os livros a serem compartilhados também devem ser aqueles que ofereçam alguma dificuldade ao leitor, para que valha a pena investir neles, assim as crianças se mantêm atentas e essa dificuldade trará um desafio para ela de compreensão e busca para antecipar a narrativa, que pode trazer ambigüidades para despertar o interesse e as interpretações diversas. A idéia está em apresentar textos um tanto além da possibilidade de leitora autônoma das crianças, reiterando um dos critérios citados por Colomer.

Segundo artigo divulgado no site de AZEVEDO[9]:
               “O texto literário por definição, pode e deve ser subjetivo; pode inventar palavras; pode transgredir as normas oficiais da Língua; pode criar ritmos inesperados e explorar sonoridades entre palavras; pode brincar com trocadilhos e duplos sentidos; pode recorrer a metáforas, metonímias, sinédoques e ironias; pode ser simbólico; pode ser propositalmente ambíguo e até mesmo obscuro. Tal tipo de discurso tende a plurissignificação, à conotação, almeja que diferentes leitores possam chegar a diferentes interpretações. É possível dizer que quanto mais leituras um texto literário suscitar, maior será sua qualidade”.

Algumas descobertas...

Notei que algumas vezes me questionei ao ler alguns trechos por questões de censura (da minha parte claro), ao mesmo tempo em que pensava “nossa será que leio isso?” Imediatamente meu cérebro respondia “Ora, mas eles não têm o mesmo olhar que nós adultos, não tem malícia e se está escrito é para ler”. O livro é adequado para crianças e sendo assim minha postura foi sempre ler, nunca vedei nada, só me questionava e olhava a reação deles depois do que lia... e a reação era normal, claro! O que eu esperava?... O professor se depara com cada questionamento! Para as crianças tem coisas que passam desapercebido e estão presas mais na narrativa do que em alguns outros aspectos.
 Entendi que ao escolher um livro infantil deve-se valorizar o conteúdo e não restringir é importante; sempre fazer uma pré-leitura e levar em conta que algumas frases fazem parte da história, da cultura e muitas vezes é a identidade da narrativa, não ler significa descaracterizar essa literatura.
A maioria dos livros que utilizei tinha ilustrações e percebi que fez bastante diferença principalmente quando é um mito em eles pedem muito as imagens; quando é um conto tradicional, querem prestar atenção na história para entender o que está acontecendo e não se prendem as imagens.
A importância das ilustrações está em considerar que segundo AZEVEDO[10]:
                           “É impossível negar que todo o texto ilustrado vai, necessariamente, receber interferência de suas ilustrações. A energia, a leitura (ilustrar é interpretar), o imaginário, a linguagem, as cores, o clima, a técnica, as referências icônicas, tudo o que o ilustrador fizer, vai alterar e interferir na leitura (e no significado) do texto”.
A imagem nesse caso (dos mitos) alimenta e complementa a imaginação das crianças, é prazeroso vê-las, como não vêem estes monstros por ai, a curiosidade é grande de ver como eles são. Ampliando a linguagem visual das crianças, porque eles comparam com outras que já viram ou que mostro de outro livro.
A narrativa explica como é tal monstro, eles imaginam e logo querem ver como está no livro. Algumas vezes parece ser difícil imaginar algumas coisas, isso porque existe uma discrepância sobre o que alguns sabem e o que outros não sabem. Por conta disso, quando alguém pergunta, dou abertura sempre para quem quiser responder e depois eu complemento se precisar ou respondo se ninguém souber.
É muito importante educar esse olhar dos pequenos, trabalhar em sala de aula com a inteligência viso-espacial, buscar estratégias para eles se tornarem observadores, aprendendo a olhar para aquela imagem, apreciar e não apenas ver, desenvolver essa capacidade o ajudará a melhor atribuir significado ao que é estético. Alguns livros exploram mais que os outros a fronteira entre a compreensão e a atração nos livros infantis.
AZEVEDO[11] complementa que:
                   “Levar em conta a existência, dentro de livros, de diferentes graus de relação entre o texto escrito e as imagens pode, apesar disso, contribuir para uma melhor compreensão desse território rico e complexo que é o livro ilustrado”.
Nesta seqüência tentei apresentar as crianças diferentes livros, ilustrações, textos e formas de contar. Algumas das apresentações foram “contação” sem o apoio do livro, mas a maioria delas com o livro, livros somente com textos, livros ilustrados com diferentes técnicas, colorido, preto e branco, pequenas ilustrações que dão luz a imaginação das crianças e outras mais explícitas, gostaria de ter apresentado diversas configurações em relação ao formato do livro (pequeno, grande, grosso, fino, quadrado, retangular, etc).
Diferentes finais de história foram muito importantes para se distanciarem do final de sempre, que é o de felizes para sempre ou sempre positivo ou que o bonzinho ou herói sempre vence, contribuindo para desmistificar algumas convicções.
As ilustrações complementam o texto e vice-versa. Alguns livros de qualidade trazem um paralelo entre texto e imagem; não sobrecarregando o livro, a imagem proporciona o caminho para chegar a histórias mais complexas, possibilitando diminuir a linearidade do discurso, por meio das imagens a criança pode chegar a entender melhor a história complementando o texto se estiver muito difícil de compreender. O texto ficaria em segundo plano para tal criança e ela se concentraria mais na ilustração para melhor interpretação. A ilustração é uma referência visual podendo dar dicas sobre a historia. Também pode complicar a interpretação, é um recurso que permite estabelecer divergências de significados.

Algumas Considerações

A literatura oral popular do Brasil tem o sentido de divertir e emocionar fazendo com que as crianças conheçam outros mundos e os comparem com a própria realidade, nos revela informações históricas e sociológicas, apresentando costumes, idéias, decisões e julgamentos, ambos de fonte popular. As crianças acessam a outros mundos lhes permitindo diferenciar a própria, realidade do que é ficção, interpretando a cultura.
Acredito que deve haver um investimento maior na escola com esse gênero, uma vez que as crianças conhecem muitos contos fadas e não conhecem textos específicos de nossa própria cultura, que é muito rica e merece investimento tanto quanto as de outros países. O folclore apresenta narrativas  que seduzem esses pequenos leitores.
Os registros da cultura popular que expressam as tradições de nosso povo devem ocupar um vasto espaço em nossas bibliotecas, permitindo que nossos alunos possam vivenciá-las em toda sua riqueza, permitindo que as crianças entrem em contato com que foi construído culturalmente. Sugiro que se tenha mais livros de folclore para acesso das crianças mesmo que sejam mais simplificados a intenção é formarmos leitores críticos, autônomos e competentes e esse tipo de titulo ajuda nessas escolhas. E que esta seqüência, complementada pela equipe da série, passe a fazer parte do currículo do 1º ano.
Os textos literários apresentados para as crianças de 6 anos tiveram um contexto de trazer a diversidade de textos, onde notei que pude ampliar a experiência leitora e contribuir para aquisição de novos esquemas narrativos.
A importância da roda é socializar o conhecimento, as crianças não nascem leitoras, apreciadoras, dia a dia vão avançando  neste sentido por meio de uma outra pessoa, pais ou professores. Os alunos progridem quando a leitura é compreensiva, interpretativa, quando os elementos internos são explorados, entrando num intercâmbio com os conhecimentos externos.
O diálogo na roda foi uma intervenção acertada e significativa que mudou meu olhar em relação a contar histórias e a como deve ser encaminhado esse momento. A questão da censura ficou bem clara, que a interpretação infantil nunca será a mesma de um adulto; as crianças mantêm seu olhar infantil e, sobre as ilustrações, ela tem o papel de ampliar a interpretação e imaginação, fazendo com que as crianças percebam a relação do texto com a imagem e a compreendam de modo integrador.

Texto de autoria: Marcela Chanan

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Referência bibliográfica

CASCUDO, Luís da Câmara. Folclore do Brasil. In: 1.Cultura popular e folclore,
3. Era uma vez. Ed. Fundo de cultura, 1967.
___________. Literatura oral no Brasil. São Paulo: Global, 2006.
COLOMER, Teresa. Andar entre os livros – A leitura literária na escola. São Paulo: Global, 2007.
COLOMER, Teresa; CAMPS Anna. Ensinar a ler ensinar a compreender. In: O planejamento da leitura na escola. Porto alegre: Artmed, 2002.
PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
ROSA, Nereide Schilaro Santa. Lendas e Personagens. São Paulo: Moderna, 2001.
TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. Aprender a ler e a escrever – Uma proposta construtivista. In: Livros infantis na sala de aula. Porto Alegre:       ,     .
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LÓPEZ, Amelia de los Milagros. Un lugar para la lengua y la literatura en nuestras escuelas. Disponivel em < www.cba.gov.ar/imagenes/fotos/me_vlcanon.doc - > acesso em 12/10/2007.
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VILA, Centro de Estudos da escola da. Práticas de leitura e os procedimentos do leitor, 2007.
________, A formação do leitor, 2007.
________, As rodas de leitura, 2007.
________, Critérios para selecionar as leituras em voz alta, 2007.


[1] ONG, Walter. Oralidade e cultura escrita. In: A oralidade da linguagem. São Paulo: Papirus, 1998.

[2] CASCUDO, Luis da Câmara. Folclore do Brasil. In: 1.Cultura popular e folclore,
3. Era uma vez. Ed. Fundo de cultura, 1967.

[3] CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura oral no Brasil. São Paulo: Global, 2006.

[4] COLOMER, Teresa. Andar entre os livros – A leitura literária na escola. São Paulo: Global, 2007.

[5] COLOMER, Teresa; CAMPS Anna. Ensinar a ler ensinar a compreender.         : Artmed, 2002 (Capitulo 4).

[6] LÓPEZ, Amelia de los Milagros. Un lugar para la lengua y la literatura en nuestras escuelas. Disponivel em < www.cba.gov.ar/imagenes/fotos/me_vlcanon.doc - > acesso em 12/10/2007.
LERNER, Delia. Lengua – Documento de trabajo nº4. In: Um lugar para la literatura em la escuela. Disponível em
MENDOZA, Silvia (org.). Diseño Curricular para la Escuela Primaria. In: Prácticas del lenguaje – Práctica de la lectura. Disponível em < www.buenosaires.gov.arareaseducacioncurriculaprimaria.php>  acesso em 12/10/2007.

[7] PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

[8] Apostila curso CEEV
[9] AZEVEDO, Ricardo. Formação de leitores e razões para a literatura. Disponível em < http://www.ricardoazevedo.com.br/artnew03Mfim.htm > 12/10/2007

[10]AZEVEDO, Ricardo. Texto e imagem: diálogos e linguagens dentro do livro. Disponível em  <http://www.ricardoazevedo.com.br/Artigo05.htm> acesso em 12/10/2007.

[11] AZEVEDO, Ricardo. Pensando em ilustrações de livros. Disponível em  <http://www.ricardoazevedo.com.br/Artigo16Pensando.htm> acesso em 12/10/2007.